domingo, 1 de março de 2015

7 POEMAS PARA ELA


I (Sinastria)
Um que dissera não ser factível
De Fogo e Terra sentirem atração
Assiste pasmo ao indefectível
A grande força dessa união
Se teve um que tomou a iniciativa
Outro cuidou pela sustentação
E a alegria natural da vida
Fez prazerosa esta comunhão
O amor receptivo, livre de conceitos
Desafiando todos os estudos
Anima agora esses dois sujeitos
Enquanto ri de quem diz saber tudo


II
Preciso comprar um novo chuveiro para quando o amor voltar
O inverno já dá sinais e, depois desse verão,
Jamais meu coração tornará a ser frio
Quero mantê-lo limpo e aquecido
Lavar bem a cabeça para que eu me esqueça
Esta coisa de “ser feliz sozinho”
Para deixar tudo quentinho: edredom, lençóis macios
Onde ele possa deixar-se em abandono
À mercê dos meus zelos
E se numa dessas noites, ao despertar do sono,
Esteja o meu amor ao meu lado,
Que eu tenha o gesto adequado para acolhê-lo.


III
Veio. Atirou-se destemidamente
Nova direção, novo “até quando”. Ela veio,
Ainda que muitos pudessem se apavorar...
Teve apenas um que disse: Vá. Ela veio
Não sei se alguém tentou demovê-la. Ela veio
Talvez a alma sussurrando: A vida se esvai… Ela veio
Impulso criativo na minha vida singela; Ela veio
E eu pensava ser ela uma dessas viciadas em certezas
E eu a pensava…
Loucura mais que bem-vinda
Vida em movimento e de um não/sim, nada esperar. Tudo acontecer...
As coisas tomaram uma forma “certa”
E se eu pudesse nunca mais deixava ela partir…


IV
É domingo, espero e observo
Embora seja grande a expectativa
Já não tenho a ambição dos que querem pra ontem e tudo perdem
Não forço os avanços que retrocedem
Existe uma independência interior que é maior e me guia
Aceito. Apreendo. Acredito
Já está acontecendo...
O destino orquestrado
Virá no seu tempo (morar comigo)
O ser desejado.
E tudo funcionará corretamente
Então será acomodada toda agonia
Um par ganhando forma e tudo tomando prumo:
A Casa, As noites, as Horas, os Dias, ...
Nós.


V
Não sei se não amadureci direito
Mas ainda sigo meu peito mais que minha razão
Se apaixonado, sou meio criança estabanada
Que mete o dedo na tomada e espalha energia
Em mim, Amar não cabe diplomacia
Sou chama que inflama, arde, explode
Eu sei que gente assim, se Freud
Explica, Erra pelos próprios exageros
Ardendo em fogo. Que me importa!
Eu me dou em festa, extremo, agudo
E transformo o ser amado em tudo
Não importa se real ou projeção
Se o amor é retribuído ou é em vão
Saberei, saberão...


VI
Leva-me. Louvo-te. Love me
Afoga-me no teu perfume. Lava-me em tuas águas.
Liberta-me de todo o ciúme
Livra-me do medo. Depura em mim velhas mágoas...
Londres? Leva-me mais longe...
Leva-me onde passeiem meus dedos em festa,
A contornar tuas arestas, reconhecer tuas curvas
Mitiga a sede do teu corpo com minha língua
Leva-me a penetrar-te cada fresta, mesmo as incorretas...
Leva conforto adentro, este morto à míngua
Corrompa-me com tuas leis. Faz-me lascivo...
Laça-me. Ata-me. Torna-me cativo.


VII
Nunca foi tão fácil escolher a direção
A porta se abriu e lá estávamos frente a frente
Tinha o mesmo sorriso que um dia me cativara
A voz interior, certa noite, me conduziu a ir buscá-la e tinha razão
Linda, feminina, amorosa e de presença ímpar, permitiu-se ser meu par
Invadiu-me por completo, enchendo de beleza meu existir
Criamos vínculos, enlaçamos nossos dedos, encantados
E agora seguimos enamorados, num encontro coroado de prazer








segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O VÁCUO


Sua ausência deixa-me esta sensação. Um vazio de sua matéria onde passo a mão e penetro e gozo. Um vazio de voz, ruídos, sorrisos, sussurros, nós. Falta-me o ar que põe graça nesta casa e que, às vezes, me aborrece de tanta intervenção. Falta a pressão. Correr para limpar o apartamento para que encontre tudo em ordem, menos eu. Quântica e perene desordem. O mais é o oco.
Este vago não me faria morrer, mas descolore... Uma dor indivisível, nem tão pungente, mas vívida. Uma lacuna de definição ou simbologia que a traduza. Talvez um gol mal anulado, onde todos vibram, experimentam a sensação do prazer, para saberem, posteriormente, do não ter sido validado.
Falo vácuo, mas na verdade o que sinto é o excesso de sua presença que não se esvai com sua partida, fica aqui preenchendo os espaços, as horas, os temas... Como a luz que dá falsa sensação de pulsar às estrelas...



sábado, 16 de agosto de 2014

DA PATERNIDADE (Apenas uma reflexão)

Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
(DRÃO - Gilberto Gil)
Hoje, eu quero pedir perdão aos meus filhos se os ofendi, se os magoei, se não atendi às suas expectativas. Eu quero pedir perdão por não ter a receita, a bula ou o manual da paternidade.
Quero pedir perdão também, se não consegui ser tão complacente ou tão generoso quanto os pais dos seus amigos. Desculpem este “sabe tudo” que, em algum momento, contestou seus comportamentos, causando dificuldades desnecessárias nas suas relações com o mundo exterior. Perdoem-me se meus bloqueios me impeliram ao exercício de autoridade de modo que vocês sentiram-se tolhidos na liberdade de fazer o que bem quisessem.
Perdoem-me por me induzirem a usar palavras fortes e desnecessárias, pois nunca tive o desejo de diminuí-los, humilhá-los, muito menos amedrontá-los.
Perdoem este ser ultrapassado cheio de quereres, de preocupações e que embora cheio de humanidades por alguma razão bancou, por vezes, se passar por super-herói e, pateticamente, falhou...
Peço perdão por não saber explicar este incompreensível medo que povoa o coração de nós homens quando pai nos tornamos, fazendo com que fiquemos reticentes quanto ao futuro, quanto às suas seguranças, quanto aos seus caráteres.
Talvez não tenha feito o melhor, mas era dever investir meu tempo, minha energia e esta forma meio “tosca” de dar amor na tentativa de torná-los pessoas do bem, dentro daquilo que imaginei ser “o bem”. Perdoem-me por não desistir...
Eu sei que errei muitas vezes. Fracassei outras tantas. E é por isso que preciso dos seus perdões. Preciso principalmente para que eu não precise sentir vergonha ou remorso das suas escolhas. Para que tenha efeito a missão que me foi confiada e que, “aos trancos e barrancos”,  me esforço por onde cumprir. Para que, uma vez adultos, senhores de suas vidas,  eu me reconheça em vocês e viva, o que ainda me cabe, em paz.