segunda-feira, 11 de maio de 2009

O ABRAÇO DE MÃE

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vinculo não para de se transformar ao longo da vida.
Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância e na divergência, no sucesso ou no fracasso, com peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser desnecessários, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidem atracar. (Marcia Neder)



















Por diversas vezes na adolescência, desejei me emancipar para me livrar da “tirania” exercida pela minha mãe em minha vida. Dizia para mim mesmo que iria crescer, sair de casa e conquistar a minha “independência” sem que tivesse que ouvir: “ faça isso, não faça aquilo; isso pode, aquilo não”. Minha mãe era, naquele tempo, uma mulher que coibia minhas atitudes só com o olhar e, se por um lado isso me freava, muito me enfurecia. Houve um período em que nossa relação foi muito difícil...
Lembro que ela não nos abraçava, não sabia carinhos gestuais. O medo de demonstrar fraquezas era tão grande, que seu carinho se resumia em nos manter “bem comportados”, asseados (extremamente limpos, ainda que na roupa puída que quase já não dava na gente) e alfabetizados. Ensinou o alfabeto, a gramática normativa e todas as operações matemáticas a seus filhos, antes de irmos para escola.
O tempo, pródigo e senhor de todas as coisas, deu-me sabedoria, foi me ensinando a compreendê-la, até que certo dia, não lembro em qual episódio, comecei a me dar conta que por trás daquela austeridade, havia uma mulher que morria de medo. Medo dos filhos se desvirtuarem na vida, medo da responsabilidade de educar cinco filhos sem pai, medo da pressão que a sociedade impunha a uma mulher separada, medo de ter que sair para enfrentar o mundo do trabalho depois de anos sob o subjugo de um homem que não lhe permitia ganhar seu sustento... Medos... Medos. Essa era a minha mãe...
Se minha ideia no início era cair no mundo, o próprio mundo foi me trazendo para perto dela... Casei, separei, fui morar em casa separada e a vida nos tornando mais próximos, se é que estivemos separados em algum momento.
Com o tempo fui quebrando o gelo e fui reconstruindo nela o jeito de abraçar, fui me aninhando devagar para que ela me desse colo, quando, por diversas vezes, eu fiz “merdas” e me socorresse das dores que o mundo causa e que só o abraço de uma mãe pode curar.
Atualmente, fico muito feliz quando a vejo transitando pelo afeto, hoje muito menos rígida, com minha filha e seus outros netos, de sangue ou não. Fico bobo de ver como ela se deixa envolver e se comover com eles, abraçá-los e declarar verbalmente seu amor...
Amo demais essa mãe e, com a base na religiosidade que com ela aprendi a exercitar, oro todos os dias por ela e ela por mim, tenho certeza. Reivindico seu abraço em todas as oportunidades para que não tenhamos no que nos arrepender quando partirmos deste plano.