quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ENTENDENDO A AUTOGESTÃO


De todos os princípios que norteiam e legitimam o cooperativismo, talvez a autogestão – participação efetiva dos cooperados no estabelecimento dos rumos do empreendimento – seja o principal diferencial deste modelo de organização. Parece-nos claro que todos ganham num modelo socialmente justo e solidário, onde as diretrizes, responsabilidades e políticas são definidas coletivamente e compartilhadas. Por que então boa parte dos associados se omite de tomar nas mãos o destino de seu próprio negócio?
É muito comum que as pessoas aleguem desconhecimento e falta de domínio gerencial para tomadas de decisões, mas o que se observa neste modelo de organização é um excesso de comodismo e algo que é mais crônico: o medo de correr risco e do fracasso.
Para aqueles que alegam desconhecimento, digo que na verdade, existe um meio muito simples de conhecer: aproximando-se. Estando aberto a aprender com aqueles que já estão envolvidos e exercendo a capacidade de se associar na busca de soluções que representem o melhor para a coletividade. Ressalte-se que em qualquer empreendimento coletivo, valores como ética, solidariedade e cooperação devem predominar sobre o individualismo e a competição sem limites, de modo que possamos ter maturidade para compreender que o bem do grupo está acima do de cada indivíduo que o compõe.
Já o medo de correr risco passa por uma questão mais complexa, pois demanda por uma mudança cultural. É muito difícil para alguém que foi talhado para ser empregado adquirir uma visão empreendedora. Para um empreendedor, correr risco é algo inerente. Ele vai atrás da auto-realização, toma pra si responsabilidades e transforma idéias em ação. Ele sabe que perder faz parte do jogo. São pessoas que possuem verdadeira ojeriza de subordinação.
O fato é que, apesar de não caber, ainda existem nas cooperativas, pessoas com a visão de empregado, que estão para cumprir sua jornada e receber seu “salário” no final do mês. Este perfil de cooperado provoca atrofia e fragiliza qualquer organização. Para estes, por maior que seja a visibilidade das ações, por mais que tenham acesso às informações e liberdade para agir, jamais darão sua contribuição efetiva, muito embora se beneficiem dos resultados, pois não se tornaram conscientes de que a cooperativa lhes pertence e de que a eles compete administrá-la.
É somente a partir da participação de todos que se promove o estabelecimento de um ambiente democrático em que se pode construir a autogestão. Participar e responsabilizar-se solidariamente por estabelecer políticas e tomadas de decisões é um direito e ao mesmo tempo um dever de todos.

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