quarta-feira, 26 de novembro de 2008

American Citizen

Passados os momentos de grande euforia, mas ainda em foco, resolvo me pronunciar. O texto está na minha cabeça há quase um mês, mas não querendo parecer “do contra”, fiz opção em me manter na reserva. Diferente do Brasil, eu nunca vi uma campanha de tamanha força estratégica, bem cuidada, de centro e com vistas a agradar baianos, europeus, africanos e principalmente americanos. Não obstante ter derrotado uma fortíssima oponente (que vai ocupar cadeira no seu secretariado, ironicamente) dentro do seu próprio partido, o fenômeno esmagou as esperanças da perpetuação do estado de coisas vigentes na América. Dupla luta, dupla vitória, ambas vencidas sem knock out ,dada a grandeza dos oponentes. Dizê-lo formidável a esta altura seria redundância das grandes. Imputar-lhe competência, habilidade política e outras qualidades, desnecessário.

Sua vitória tem um valor simbólico enorme para o mundo. Para história americana um marco político que inaugura uma nova era. Mas, saturado pelas comemorações, pergunto: e daí? Esta vitória pode significar uma grande transformação no tecido social e político dos Estados Unidos, sem dúvida. E quanto a nós? O que festejamos? O que estamos comemorando? Uma vez que nós não somos o mesmo povo. Latino-americanos, africanos, árabes, palestinos, estamos num terceiro plano e nossas vicissitudes são outras. A herança deixada para o eleito não é das melhores e há tempos somos nós quem pagamos estas contas.

A ficha que me cai é feito moeda cujos dois lados são iguais. A festa em mim fluiu transitória específica (quase inconsciente) e baseada nas experiências de vida enquanto afro-descendente, mas a minha angústia antiamericana não se dissipa. Minha preocupação seria uma preocupação infundada, irracional e descontextualizada não fosse ele americano. Gostaria muito que esta mudança representasse uma mudança mundial nas relações desiguais e unilaterais desta superpotência, em crise, principalmente com os países pobres e em desenvolvimento, mas a ver pelo discurso da vitória, continuaremos a assistir um governo que governa pela hegemonia, pela megalomania em busca de solver seus problemas a custa e pouco importando o desequilíbrio mundial. Oxalá, esteja eu enganado.