quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

DO AMOR ROMÂNTICO E OUTRAS CRENÇAS

A minha solteirice tem incomodado algumas pessoas. Todo mundo que me conhece e cruza comigo ultimamente, estranha que eu queira estar solteiro.
Sempre me vi envolvido em relacionamentos duradouros, chamo duradouros cinco, seis anos de convivência, em histórias que sempre foram marcadas por muita paixão e pouco amor. De um modo geral, o meu amor por estas pessoas só se manifestou depois do relacionamento findado. Não o amor carnal, mas um amor pelo que de bonito estas pessoas têm enquanto seres humanos na sua complexidade, contradição e, sobretudo nas diferenças. Um amor pela beleza que é, mesmo que involuntariamente ou inconscientemente, aquilo de bom estas pessoas deixam no rastro da nossa estrada.
Já faz um tempo que não me dou a chance de me apaixonar. A paixão vicia. Se fui viciado boa parte da minha vida, hoje corro para léguas de distância toda vez que tenho contato com a remota possibilidade.
Não, não sou um homem frio. Com o tempo descobri que a maior parte das coisas que a gente busca na paixão, está buscando de uma forma equivocada. A gente busca no outro uma satisfação ou realização que não temos ou que não conseguimos alcançar, por diversas razões, em outra pessoa. Toda paixão começa assim e é razoável que assim seja. A gente só se aproxima daquele que tem a nos dar ou nos remete a algo. Isto é tão forte que nos leva em direção a movimentos que a gente jamais houvera experimentado. Apaixonados somos mais fortes, mais viris, mais capazes e mais cegos. A gente só vê virtudes no nosso objeto de paixão. Aí é que mora o perigo. Passada a "onda", quando a gente começa a se deparar com o humano da outra pessoa, começam os "grilos". Você não era assim no começo. Você disse que me amava. Você me enganou. Você não gosta mais de mim. Quando na verdade tudo transcorre como sempre foi.
Outro sintoma da paixão é sentimento de posse. Em geral, a gente quer aprisionar nosso objeto de desejo. Possuí-lo com se gente não fosse. Controlar. Como pode a gente querer tirar do outro aquilo que é o bem mais precioso do ser humano: liberdade?
Pessoas são para se exprimir, ir e vir, partir ou ficar se assim o quiser. Só quando a gente se dá conta disso é que, pelo menos em tese, se está pronto para o amor. Amor é sinônimo de liberdade. Havemos de amar o outro como a nós mesmos, isto sem nenhuma conotação religiosa. Aceitando, respeitando o outro como é.
Eu só aprendi a me amar, no sentido amplo, quando fui morar sozinho. É muito difícil a gente se auto-afagar, tolerar nossos próprios humores, nossos preconceitos e nossas carências. Que direito temos de achar que o nosso par tem esta obrigação? Foi só na vivência que pude me dar conta disso. Tão somente, aprendendo a me amar que pude compreender que tudo que vivi até hoje foi paixão.
Alguns hão de dizer, mas antigamente as pessoas se amavam mais. E eu afirmo categoricamente, alguém renunciava, muito equivocadamente, a sua própria vida para viver a do outro. Tolerar não é amar. Claro que existiram amores plenos e verdadeiros, mas não como via de regra.
Por isso amigos, optei em dar um tempo solteiro. Estou bem comigo. Estou em processo de me tornar cada dia mais feliz, porque eu intento viver um amor. Um amor que venha não pra me fazer feliz, por que feliz eu já me encontro. Um encontro com alguém que também esteja feliz a ponto de compartilhar a vida sem me atribular ou sentir-se atribulado. Sem querer que eu seja quem não sou. Que compreenda que alegrias e tristezas fazem parte. Bons e maus humores também. Que se perde. Que se ganha. Que a vida é um processo de aprendizado constante, um exercício de prazer e que o arbítrio é o maior bem que possuímos.