quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A INQUISIÇÃO NOS NOSSOS DIAS

Nos dias de hoje, embora não possamos desconsiderar os avanços democráticos do atual governo, existem ainda setores extremamente retrógrados e despreparados para acompanhar as transformações culturais que estão se estabelecendo nos meios de produção e nas relações de trabalho. A intervenção descabida e irrestrita do governo nestas relações. A insistência desmedida em fazer prevalecer uma convenção caduca e ultrapassada, a necessidade de capitalizar politicamente esta intervenção, convertendo estatisticamente o número de carteiras assinadas, ainda que seja com salários minguados, em bandeira social, tem concorrido para a tomada de ações cujas consequências não tem sido verdadeiramente avaliadas.

O grande xodó, às avessas, deste governo, representado pelo seu Ministério Público e STJ, são as cooperativas de trabalho. O não entendimento da sua função, do seu funcionamento e principalmente a má vontade para com estes organismos tem deixados sérias sequelas em vários seguimentos produtivos da sociedade.

Todos sabem que o trabalho é fator determinante para o ordenamento social, cultural e produtivo de qualquer nação. A falta de trabalho é geradora das principais mazelas de que temos conhecimento na sociedade moderna. Sabe-se que com o advento dos avanços tecnológicos, a carência de empregos aumenta a cada ano. E que mesmo profissionais qualificados não são absorvidos pelas empresas, haja vista que a procura é infinitamente maior que a demanda.

Aí se estabelece o contraponto desta postura. Por mais esforços que o Governo empenhe na perseguição de postos de emprego, não existem empresas suficientes para assegurar que uma sociedade jovem como a nossa, tenha oportunidade para todos. Principalmente, se pensarmos que dar emprego é uma grande punição para o empregador no que se refere à carga tributária a que este está submetido. Sendo, muitas das vezes, a terceirização a única saída para sua própria sobrevivência.

Mas voltemos às cooperativas. As cooperativas são organismos constituídos, voluntariamente, por pessoas que não tiveram a oportunidade de se encaixar nos postos de empregos disponíveis, mas que enxergaram uma forma organizada, amparada em lei específica e vigente, de contratar serviços para este grupo, de modo a garantir a sobrevivência dos seus membros de forma digna.

Como em todo seguimento social, existem as que seguem a doutrina e as que não seguem, por que nascem do desejo de alguém em explorar as pessoas. Hoje, a bem da verdade, nem se explica mais a existência destas segundas, haja vista que o governo tributa as cooperativas da mesma forma que uma empresa mercantil.

O sistema cooperativo é um sistema sólido e estável, gera trabalho para seus associados e gera emprego porque depende de funcionários para tocar administrativamente o negócio. Gera divisas, paga impostos, retém e recolhe dos seus associados.

O sistema falha quando a empresa tomadora do serviço não sabe exatamente o que quer. Quando quer subordinar o cooperado como se fosse seu funcionário. Quando quer indicar quem ela quer que execute a tarefa. Quando não admite que a supervisão seja feita pela própria cooperativa.

É aí que o governo está cometendo um erro irreparável, o seu desaparelhamento, a sua falta de pessoas competentes para avaliar e separar “joio de trigo” está levando a jogar na fogueira inquisitora todo e qualquer suspeito de desviar da doutrina. Num movimento contraditório aos avanços sociais apregoados largamente pela mídia.

Da minha vida dedicada, por mais de vinte anos, ao Cooperativismo, posso afirmar que há muito mais empresas mercantis de comportamento lesivo ao erário público, precaristas de mão de obra e danosas a sociedade do que as cooperativas. Aliás, posso afirmar mais, a maioria das cooperativas, principalmente do ramo trabalho, nasceram por esta razão.

sábado, 19 de setembro de 2009

"NASCIDO PARA VENCER"

Ontem mais uma vez, fui a Pituaçu assistir a um jogo do Bahia. Não sei se por coincidência, ou por mera fatalidade, este ano não tinha assistido o time perder dentro de casa. Vivi esta experiência pela primeira vez nesta série B. Sai me sentindo meio imbecil. Nem triste, nem decepcionado. Afinal, decepção acontece quando existe alguma expectativa acerca de alguma coisa. A realidade é que este time não acalenta em ninguém, corrijo, somente nos fanáticos cuja paixão não permite enxergar, a mínima possibilidade de se esperar alguma coisa. O time é ruim. O elenco é fraco e por incrível que pareça não dá a menor sorte. Tudo que pode dar errado, acontece. Nem lembra o Bahia da minha juventude. Marcado por uma estrela que nenhum time no Brasil tinha igual.

Vocês haverão de perguntar: então o que foi você fazer lá?. Eu respondo. Eu sou apaixonado por futebol. Gosto da improbabilidade do espetáculo. Gosto da manifestação folclórica que se faz em torno de cada evento. Das discussões acaloradas, das quais não participo, mas adoro assistir. Gosto do comportamento surpreendente das pessoas. Da total falta de parcimônia com que as pessoas se aproximam das outras como se conhecem há anos para discutir um lance, um atitude do árbitro, uma substituição no elenco. Futebol não se faz só no palco com seus 25 atores diretos. Faz-se com muitos coadjuvantes e isto é mais que interessante.

Cresci jogando futebol. Cresci, trocando qualquer evento por um bom jogo. Perdi namoradas. Abro um parêntesis. Há 30 anos atrás, quase nenhuma namorada queria ir para os estádios de futebol. Pra felicidade geral, os estádios hoje vivem floridos. Acho muito bonito grupos de garotas no estádio.

Mas tudo isso é balela. Tenho um verdadeiro amor pelo Bahia. Um amor sóbrio, hoje, que já não me faz padecer. Homem maduro, de visão analítica que me tornei. Não me dou mais ao luxo de me aborrecer. Vou ao estádio para prestigiar o esforço de alguns, independente da incompetência gerencial que tem assolado o clube. Gosto de me vestir destas corres que fazem parte do meu imaginário, desde 1969 quando ainda não tinha sequer ido a uma praça de futebol e me fiquei triste quando ele, naquele ano, não conseguiu alcançar o Fluminense de Feira. Gosto do Bahia porque me remonta a momentos mágicos inenarráveis e de uma alegria que me contagiou por toda vida. Vou ao estádio porque quem come a carne rói o ossos, já diziam minhas avós. Porque meu casamento com o Bahia ainda dá certo apesar das sucessivas crises. Vou ao estádio porque lá no fundinho, morro de medo de ver meu time acabar.