sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

UM ANO DO LANÇAMENTO DO CD ESSÊNCIA


Há duas semanas, eu estava em Salvador, por volta das sete horas da manhã, quando meu irmão me liga pra dizer que minha música estava tocando, naquele momento, na Rádio Educadora. Eu disse para ele que eu tinha ouvido e falei do mágico de acordar naquele instante e da emoção que eu estava sentindo. Tinha ido a Salvador desmontar o apartamento em que morava e uma incômoda melancolia me acometia por ter que me desfazer daquele que foi meu ninho por quinze anos e que me vinculava, ou permitia voltar, de forma recorrente, para a cidade que eu amo, e que tive de deixar por força do trabalho.

Ouvir “Gratidão” tocando na rádio, naquele instante, ressignificou tudo que eu estava sentindo. Era o universo de alguma forma me sinalizando que para além das relações de afeto cujos elos não irão se desfazer, agora eu tinha também me vinculado pela música.

Esta introdução é importante porque ela ilustra bem a importância que passou a representar ter produzido este que é o meu primeiro CD. Essência, este é o nome, completa uma ano de lançado me proporcionando até hoje surpresas, alegrias e reconhecimentos dos mais improváveis. Não que ele tenha caído nas graças de nenhum crítico de música famoso, nenhum produtor ou algo semelhante. Não fiz nenhum movimento pra isso, diga-se de passagem. Não tinha esta finalidade. Aliás, não tinha finalidade outra a não ser agradar a mim.

O fato é que de modo surpreendente, muito mais que isso, Essência me deu a oportunidade de conhecer valores que Salvador tem, que não deixam nada a dever pela competência, pela qualidade do trabalho, pela criatividade e pelo senso de coletividade a nenhum deste centros produtores de música. Graças a estas pessoas o resultado é um trabalho que tem agrado não só aos amigos, mas a gente que eu nunca vi, que nem sabia que eu compunha e gente que conhece e gosta de música, mas que nem imagina que na Bahia existe uma pluralidade maior do que mostra a mídia.

Essência tem sotaque baiano, tem cor local e tem a assinatura de gente boa, que se sabe boa, mas que ainda não tem a visibilidade proporcional a sua qualidade. A cada vez que apresento este trabalho fora do meus círculos naturais de conhecimento, nas plagas novas por onde tenho andado, os comentários são os melhores sobre arranjos, sobre execuções dos músicos, sobre o belo trabalho gráfico. E eu confesso que sinto um orgulho muito grande.

Pode Essência não ser um CD primoroso, pode não surpreender ao povo ávido pelo boom de novidades efêmeras, pode não ter a pujança das grandes produções, mas Essência é honesto, feito por gente honesta com sentimentos, vontade e trabalho para aqueles que ainda param para escutar. Não soa pretensioso, nem tão pouco de consumo fácil. Ninguém, entretanto, poderá dizê-lo previsível.

Fecho este texto, cujo fim é celebrar, agradecendo a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que conseguíssemos parir este filho, que hoje completa um ano, do qual somos todos pais e responsáveis e que, de forma muito competente, fizeram com que meu samba vencesse a barreira do anonimato, tocando na rádio e contribuindo humildemente para ajudar na repaginação da música que ora se produz na Bahia.