Dedico este texto a Profª Ana Maria, minha inesquecível professora de "Comunicação e Expressão" da 6ª a 8ª, que lecionava no Complexo Escolar Evaristo da Veiga, lá pelo meado dos 70's, que foi quem me ensinou o amor pela Língua Pátria. Talvez, e muito provavelmente, ela não saiba, mas a amo, até hoje, por isso.
"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais..." - Rubem Alves
Minha mãe foi a primeira professora minha. De cima do rigor que possuía , mas com muita propriedade, apesar, de na época, ter baixa escolaridade, apenas o quarto ano primário, me ensinou, aos cinco anos, a ler, escrever, as quatro operações básicas e a redigir, coisas que a maioria das escolas públicas não consegue fazer em anos de ensino fundamental. Cheguei na escola “voando”, tirando notas 9 e 10 em tudo, enchendo minha mãe de vaidade. Abro parênteses: acho que no fundo, no fundo, a grande gratificação do professor é ver seu aluno mostrando que assimilou aquele conhecimento que com ele foi compartilhado. Na atual conjuntura talvez a única.
A minha primeira professora “formal” chamava-se Eufrásia, de cima da “imensa sabedoria" dos meus sete anos, era a primeira mulher pela qual eu me apaixonaria. Lógico que nem tinha clareza do que era isso. Mas ela fora meu primeiro amor. Me empenhava, inconscientemente, para dar o meu melhor, para impressioná-la. Para ganhar sua atenção. Seu olhar terno e condescendente comigo. Meu coração batia forte quando me fazia qualquer pergunta e ficava a ponto de sair pela boca quando, ao acertar, recebia um elogio carinhoso. Aos 46, Eufrásia ainda está viva em mim. Fazia o que gostava. Era terna. Era consciente do seu papel.Tinha nosso respeito e respeitava-nos. Diga-se de passagem, tratavam-se de meninos paupérrimos da Roça da Sabina, do Calabar e da Rua do Amazonas logradouros das cercanias do Chame-Chame e da Barra Avenida.
Hoje acordei com Eufrásia na cabeça, é dia do professor, e ela veio me visitar a memória para me lembrar que eu também escolhi ser professor. Escolhi ser professor já numa época em que educação virou comércio. Instrumento de hierarquização social. Quem tem poder aquisitivo adquire conhecimento e competitividade. Quem não tem, vai ficar semi-alfabetizado para dar continuidade a desigualdade institucional deste país. Escolhi ser professor onde, a duras penas, o ensino público tenta se sustentar em estatísticas, quando na realidade forma legiões de analfabetos funcionais. Escolhi ser professor numa época em que os pais jogam sua obrigação, de formador das pessoas, a quem deu vida, para escola, gerando um ÔNUS imensurável para escola pública que não realiza bem nem seu papel primordial, enquanto instituição de ensino, quanto mais o de assumir tantos papéis aos quais, conseqüentemente, não tem como corresponder. Escolhi ser professor numa época em que esta profissão não é compreendida nem pelo estado, nem pela sociedade que não reconhece que o desenvolvimento do talento, a prosperidade, a inclusão, a formação profissional e, principalmente, humana passam pela sala de aula. Escolhi ser professor numa época em que a maioria dos meus anseios de educador não podem se realizar porque não me são dadas as condições mínimas de trabalho que perpassam não só por uma remuneração digna, mas sobretudo por estrutura plena para o exercício da profissão.
Neste dia do Professor, quero parabenizar meus colegas e muitos amigos que abraçam tão dura tarefa com afinco, disciplina e consciência do seu papel social.
Neste dia professor, quero propor o repensar deste quadro. Começo por , meu veemente repúdio aos parlamentares deste país que ainda não pensaram ou esboçaram um projeto a curto e médio prazo de recuperação da escola pública enquanto direito constitucional do povo brasileiro, principalmente o povo negro e o povo pobre. Sim, eu quero políticas públicas, ainda que atenuantes, mas eu quero poder ter a escola da minha infância, onde nunca pude colocar meus descendentes. Que forme jovens competitivos, capazes e detentores do mesmo conhecimento daqueles que tem acesso as escolas privadas.
Enquanto professor, se me dessem voz, pelo menos neste dia, só faria um pedido: Por favor, devolvam a minha escola pública de direito!