sexta-feira, 25 de junho de 2010

MICHAEL

Há um tempo na vida da gente que nossos ícones são deixados de lado. Nós vamos para vida prática, na ilusão que as coisas se realizam no mundo da materialização de bens, quando na verdade a gente só está se aprimorando na arte de consumir, enquanto nossos sonhos, nossas fantasias, nossos símbolos ficam meio esquecidos.
Assim foi comigo em relação a muitas ideologias que eu tive na juventude e a alguns ídolos que fui renegando com o passar do tempo, em nome desta coisa que é ficar adulto e perseguir posicionar-se socialmente.
Muitas vezes e em incontáveis momentos, eu fui mais feliz pelo o que o dinheiro não pode me dar. As melhores aquisições para minha vida pessoal não vieram na minha ascensão social. São marcas de um tempo onde eu era menos estressado, menos solicitado, mais tolerante e que cria e entendia melhor as pessoas.
Não estou fazendo apologia à pobreza. Sei o valor do dinheiro. Sei quanto custa ganhá-lo e sei, sobretudo, quanto minha força de trabalho gera de riqueza para uma casta que secularmente vive de explorar a mão de obra, de forma imoral, respaldada por um regime que esmaga a maioria da humanidade. Mas esta é outra discussão.
Falava de ídolos. E porque fiz este preâmbulo? Porque ontem quando Michael Jackson completava um ano de passagem deste plano, me pus a refletir sobre sua importância, sua genialidade, sua brevidade e quanto ele fez parte de minha vida e de toda uma geração numa época da qual não podemos esquecer.
Em tempos de jornalismo sem ética, a grande maioria dos jornais, pelo menos na Internet, não o noticiou e se o fizeram, foi de forma simplória. Manchetes acerca da sua polêmica morte não faltaram, mas poucos lembraram da sua contribuição em vida. Esqueceram do quanto este Michael era genial, enquanto ser iluminado com uma criatividade singular, que compunha, cantava, dançava, produzia, dirigia. Não fora tão laureado ao acaso. Tem um retrospecto inquestionável. Tem registros dignos de torná-lo imortal. Números, para quem gosta de estatística, que levaram todas as mídias se curvarem diante da sua grandeza artística. Sequer reverenciaram a figura generosa e disponível quando se tratava de solidariedade.

Michael foi. Michael é e sempre será magnífico.
Durante boa parte da minha adolescência e juventude ele embalou minha vida. Era um dos poucos a quem meu nacionalismo verde-amarelo se curvava. Mas não gratuitamente. Ele era maravilhoso, uma multidão de pessoas ganhava voz através da dele. Cada grupo empresarial que se curvava a seu talento, estava reconhecendo nele o potencial único que ele trouxe para esta existência.
Michael talvez tenha tido uma breve passagem, mas cumpriu sua missão. Mesmo levando uma vida conturbada, o que é natural a todo gênio que necessita se adaptar a esta falsa organização social e moral da qual ele já se encontra num outro plano. Deu mais que recebeu. Ofertou muito ao mundo e recebeu pouco dele em compreensão, em gratidão e em reconhecimento. Deram-lhe dinheiro. Mas nem mesmo o dinheiro lhe valeu. Tanto que partiu financeiramente endividado. Mas, ainda assim, deixou tanta riqueza para os nossos olhos e ouvidos que ainda ficamos lhe devendo e muito.
Do meu turno, expio minha culpa. Michael nos últimos anos andava no meu rol dos esquecidos. Ele que foi trilha de muitos bons e felizes momentos da minha juventude. Que eu admirava pela luz que trazia. Pela revolução que causou no show business, mesmo sendo “negro” e dentro de um mundo apodrecido... Por tudo que ofertou a minha geração. Ele não andava na ordem do dia da minha vida atribulada. Foi sua passagem que o trouxe para perto de mim outra vez. Que me fez refletir sobre sua dimensão e importância...
Quando assisti THIS IS IT eu pude crer: agora não é mais a imagem daquele homem que faz a diferença, sim seu espírito criativo/criador. É o símbolo. O ícone. Ídolo majestoso, generoso e dócil rei... Cujo reinado está para ontem, hoje e sempre.

Leia: http://hamiltonhafif.blogspot.com/2009/06/mitos-de-uma-adolescencia.html

domingo, 20 de junho de 2010

DAS MANIFESTAÇÕES JUNINAS II



Coração-bôbo
Coração-bola
Coração-balão
Coração-São-João
A gente
Se ilude, dizendo:
"Já não há mais coração!"...

Coração Bobo (ALCEU VALENÇA)

E depois, vieram meus amigos do Povo Pediu e me mostraram uma outra forma de festejar este ciclo de festas। Uma outra igualmente lúdica, criativa e muito amorosa। Disso também tenho sentido uma imensa falta e falo em outra oportunidade. Mas as festas juninas têm um impacto em minha vida desde que eu me reconheço como pessoa. É uma época que sempre me trouxe muita alegria. Os cheiros desta época estão todos guardados na minha memória e sempre que respiro um aroma semelhante, este me reporta a uma série de lembranças gostosas... Porque assim como o cheiro das pessoas nos marca, o cheiro que fica na atmosfera, em determinadas ocasiões, parece que entranha na gente.

Quando eu era pequeno, o cheiro de pólvora que me enchia minhas narinas e minha alma de curiosidade। Os estalidos das bombinhas, dos traques, o serpentear das cobrinhas e o fogo dos foguetes eram coisas que me acendiam por dentro um fascínio que não consigo mensurar। Aliás, fogos de artifício me encantam e fascinam até hoje। Minha mãe, toda temerosa, mas travestida de autoritária, adiou ao máximo meu contato com estes artefatos। Pensava ela। Como esta coisa do proibido nos atrai desde sempre, a gente ia à cata do amigo, cuja mãe ou o pai era menos preocupado, para filar pelo menos uma única bombinha para satisfazer aquele desejo de se arriscar. Sabia claramente que se eu me queimasse ainda levaria umas “porradas”. Periquito, meu amigo solidário e cúmplice, ainda que isso me custasse uma dívida futura de encobrir seus malfeitos, sempre esteve a postos para saciar este desejo pueril. Era na casa dele que se rezava Santo Antônio, três noites de rezas, três dias de ambiente de festa, de cheiro bom de canjica, mungunzá, bolo de aipim e carimã. Eram bom que a gente podia dormir mais tarde neste período, minha mãe ficava mais complacente. Dia treze, a noite sempre acabava num samba na cozinha regado a uma comida típica bem feita, farta e, sobretudo cheirosa.



Quando adolescente, os hormônios em plena fase de ebulição, via na festa uma boa oportunidade de chegar às garotas। Licores saborosos, tomados “às escondidas”, quebravam o gelo para que pudéssemos tirar as meninas pra dançar। O cheiro das meninas, que cheiro bom। Mistura de cheiro de roupa nova com perfume e seus hálitos. Aliás, faço um aparte, a música de festa Junina nos convida a aconchegar, a acender a fogueira dos corpos, a trazer pra perto o objeto do nosso desejo. E ainda que aquele desejo, naquele tempo, não se consolidasse em sua plenitude, a chance de ter sua paixão nos braços, naquele corpo a corpo, naquele rela-rela iria acalentar a fantasia juvenil por um bom par de dias.



Assim cresci, adorando este período, quebrando coco, indo para feira comprar os ingredientes, enfeitando a rua de bandeirolas। Vendo balões, quando ainda eram permitidos. Colando de balão/bolo, depois de balão/beijo. Comendo milho, amendoim, pamonha, chupando laranja de umbigo...


Depois a gente chega à fase adulta, estas coisas ficam ressoando dentro... A gente viaja, experimenta novos aromas, novos paladares, novos afetos, novas amizades, ganha dinheiro, mas o que vale mesmo é esta memória que é impagável, forte, viva e que consubstancia tudo mais que vem depois...





sábado, 5 de junho de 2010

Oi, MENINO!!! QUE FAZES?


"Se por acaso um dia você for embora
Leve o menino que você é."
(MEU MENINO, Ana Terra e Danilo Caymmi)

Ainda sigo sonhando
Cara ao vento, empinando arraia.
Às vezes, na beira da praia.
Às vezes, um morro escalar.

Pensando em feijão com arroz
Pesquisando: o que é longevidade?
Sigo morrendo de vontade
De não ir onde tenho que chegar

Correndo atrás de bola
Arrancando a cabeça do dedo
No fundo só tenho Um medo: O de perder minha mãe
Subindo em toda mangueira.Fruta quente, sol a pino.
Quebrei a cabeça de um menino
Não me importa que eu apanhe

Sigo matando passarinhos
Num tempo sem crueldades
Quebrando os vidros da cidade
Escondendo-me no pomar

Fazendo do mundo um folguedo
Banho de mar. Banho de bica.
Mulher do padre é quem fica
Eu não quero aprender a rezar...