Num país campeão em tributação, um espaço para usufruir o que temos de mais caro e que ainda não foram taxadas: inventividade e capacidade de se indignar.
terça-feira, 15 de julho de 2008
VIAS OBLÍQUAS
... E depois, eu já não me consentia o “direito” de reivindicar(menos ainda em acreditar): tardes mais azuis, gestos menos amarelos e verde transparência. Tudo ilusão. Não que eu ache viver uma coisa tão volátil e tão extrema quanto quer o veloz computador (A vida é mais do que se conta. É uma questão de “oportunidade”). No mais, só habeas corpus para hábeis senhores, tornando obsceno o “entre e sai” que seria próprio ao movimento do fazer amor.
Sacudido destes dias, para muitos de crença escorrendo pelos dedos quando nem bem o galo tinha cantado, e se quer estabelecera-se os limites, conceitos e diretrizes para vivê-la: o pássaro voou.
Pássaros de porte ainda hoje voam mais rápidos, muito embora se meça o tempo em horas, minutos e segundos como antigamente. Tudo parece mais alto e solúvel quando convém. Tornou-se impossível voltar atrás da tentativa do "feliz" voltar atrás.
A sensação que pairou é de que a cega enxerga sim, ainda que pelos olhos do guia, aquele da espada brilhante, e está tudo certo. A túnica já não lhe cobre os belos seios (talvez de silicone). Quem se importa? Sua boca, quase que politicamente correta, de tanto deleite parece esboçar sorriso. Nenhum siso. Qual cura, o quê?
Mordesse meu próprio braço e bem saberia onde ia dar. Não vou fazê-lo porque a estrada, interditada para alguns, se encontra perfeitamente trafegável e leva para um abismo sem barreiras de zelo ou de reverberações.
E depois, sábado é daqui a pouco e, enquanto os omissos assistem ao certame, quero estar na singeleza da minha casa para assistir Corinthians e Bahia.No bolso resta a esperança de que o Bahia ganhe a peleja e Xangô, orixá do conhecimento e da JUSTIÇA, caia sobre a cabeça dos homens.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Um mês sem Jamelão
Nesta segunda, 14 de julho, o Brasil completa um mês da morte de José Bispo Clementino dos Santos, por poucos assim conhecido, mas inesquecível como Jamelão. Quem gosta de música, no mínimo, já ouviu este nome e sabe de quem estou falando.
Jamelão parecia ter um temperamento forte e explosivo como sua voz. A última imagem marcante que tenho dele é muita curiosa. Nosso intérprete flagrado, acidentalmente, fazendo um gesto obsceno com o dedo no momento em que a TV Globo ia entrevistá-lo naquele que seria seu último desfile pela sua escola de coração. Era a atitude irreverente de uma figura folclórica sobre a qual suscitam muitas histórias e, segundo a mídia, detentor de um grande mau humor.
O registro que faço dele é do sujeito que emprestava emoção às canções como ninguém e que tinha um charme inigualável na leitura de sambas-enredo que o qualificaram como intérprete sim, jamais puxador. Os outros vieram depois...
Jamelão foi enterrado com muito samba, muitos depoimentos de pessoas famosas e relativa cobertura, mas rendidas as homenagens, fico sempre com a sensação de que fazemos pouco por estes monstros sagrados da arte que, não demora, serão esquecidos pela mídia.
Jamelão que "pensava que seria sempre operário", na verdade o foi. Operário da arte, da boa interpretação e do domínio vocal inigualável. Ele deixa uma lacuna, a qual talvez não interesse mais a indústria fonográfica preencher, mas que no cancioneiro popular ainda e pra sempre terá seu lugar. As serestas continuarão. As serenatas. Os menestréis hão de prosseguir se inspirando naquela voz grave de pronúncia irretocável que tocava aos corações e expressava o sentimento da gente que não se vê na televisão.
Não, Jamelão. Não vamos deixar sua arte cair no esquecimento. Ela será sempre lembrada nas canções melodiosas e no lirismo das letras que você interpretava como ninguém, num tempo onde as canções faziam sentido e do qual morremos de saudades.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
O paradigma de ser autônomo
Eu participo de uma cooperativa que em outubro completará 20 anos de existência e eu, que caminho há quase dezenove anos fazendo parte, trabalhando, produzindo e me sustentando a partir dela, reluto em aceitar o questionamento sobre sua viabilidade enquanto organização formada por autônomos.
Num país onde as organizações; principalmente as micro, pequenas e médias empresas; não sobrevivem aos dois anos de vida, chegar aos dezenove torna inquestionável a força deste modelo de empreendimento coletivo.
Geralmente, quando se discute questões sobre longevidade temos como senso comum que as organizações “quebram” por falta de profissionalização e instrumentos administrativos eficazes, o que em tese é a realidade. Entretanto, nas minhas andanças difundindo o cooperativismo, tenho observado que existe um elemento anterior às questões gerenciais que entendo ser o predecessor da maioria dos fracassos: o paradigma de ser autônomo.
Lembro-me perfeitamente da reação da minha família quando pedi demissão de uma empresa petroquímica onde trabalhava como celetista para aderir a esta cooperativa. Foi unânime o mal estar que tal decisão causou. Eu demorei anos para convencê-los que não era nenhuma insanidade ter autonomia.
O fato é que ser autônomo neste país parece uma anomalia. A falsa segurança que o emprego formal provoca na sociedade é algo tão forte que as escolas talham as pessoas para esta modalidade de trabalho. Conheço cidadãos de vida tão previsível e rotineira, mas que se sentem; ainda que profissionalmente infelizes; seguros por ser funcionários da empresa “X”. Foram talhados para ter um emprego e não para desenvolver trabalho. Muitos não exercitam a criatividade, não enfrentam desafios, nem sabem sequer o significado de empreender.
Certamente que não os culpo, nem os critico por isso, são oriundos de uma escola, enquanto instituição, cujo projeto pedagógico é no mínimo incoerente, pois não educa pessoas, forma verdadeiros autômatos. Não conduz o indivíduo para o prazer, o desenvolvimento de habilidades legítimas e valorização do trabalho enquanto caminho de realização com conseqüente reconhecimento e sustentabilidade. Antes, prepara para competição desenfreada, para ter um número de matrícula, uma carteira assinada e um salário muitas das vezes indigno.
Num momento em que a crise do emprego é uma realidade, principalmente para nossos jovens, onde a escassez de oportunidade fica cada dia maior, a sociedade organizada precisa descobrir que ser autônomo não só pode ser bom, mas, possivelmente, pode ser uma saída.
Cobrar da escola uma prática de ensino que leve o cidadão a pensar com autonomia, a ousar e saber reconhecer as oportunidades que surgem é o primeiro passo para quebrar este paradigma. Uma prática que leve as pessoas a pensarem, só ou coletivamente, em construir uma sociedade pautada em um novo conceito do que é trabalho.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Das manifestações juninas
Desde menino e até hoje, "burro velho", as festas juninas me encantam. Esta atmosfera de festejo que se estabelece, esta fartura que parece emergir não sei de onde, neste país de miséria, me toma de uma enorme comoção.
É muito humana a forma como as pessoas nos recepcionam em suas casas e como ficam felizes com nossa presença em qualquer região do interior do Nordeste.
Fico fascinado em ver como em meio a esta legião de corruptos que assolam o país, basta sair da metrópoles para perceber quanta gente boa, ordeira e de boa índole existe neste País. Os festejos juninos nos possibilitam isso. Conhecer gente de verdade, sem máscaras, sem discursos vazios e desprovida desta ganância da qual padece os cosmopolitas. Gente hospitaleira. Pessoas que compartilham o que tem, de forma simples e natural porque sabem que viver é simples.
Asseguro que muito "Lalau" que acumulou fortunas, nunca experimentou o prazer de um bom dedo de prosa em fim de tarde com gente de verdade, regada a um bom licor e um "mio" cozido especialmente para nos receber. Se cai aquela chuvinha e sobe a aquele cheiro de terra, então. Vixe! Gente com muita história, cultura, tradição e, sobretudo, desapego.
Esta é aura do brasileiro legítimo que sabe que viver é ser e não ter. Que não frequenta os centros acadêmicos, mas é doutor em humanidade.
Ah! Como gosto deste contato. Como é bom respirar este ar. Como é bom saber que a televisão não "emburreceu" este povo. Que bom desligar o celular e gritar: Acorda São João!
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