Num país campeão em tributação, um espaço para usufruir o que temos de mais caro e que ainda não foram taxadas: inventividade e capacidade de se indignar.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Um mês sem Jamelão
Nesta segunda, 14 de julho, o Brasil completa um mês da morte de José Bispo Clementino dos Santos, por poucos assim conhecido, mas inesquecível como Jamelão. Quem gosta de música, no mínimo, já ouviu este nome e sabe de quem estou falando.
Jamelão parecia ter um temperamento forte e explosivo como sua voz. A última imagem marcante que tenho dele é muita curiosa. Nosso intérprete flagrado, acidentalmente, fazendo um gesto obsceno com o dedo no momento em que a TV Globo ia entrevistá-lo naquele que seria seu último desfile pela sua escola de coração. Era a atitude irreverente de uma figura folclórica sobre a qual suscitam muitas histórias e, segundo a mídia, detentor de um grande mau humor.
O registro que faço dele é do sujeito que emprestava emoção às canções como ninguém e que tinha um charme inigualável na leitura de sambas-enredo que o qualificaram como intérprete sim, jamais puxador. Os outros vieram depois...
Jamelão foi enterrado com muito samba, muitos depoimentos de pessoas famosas e relativa cobertura, mas rendidas as homenagens, fico sempre com a sensação de que fazemos pouco por estes monstros sagrados da arte que, não demora, serão esquecidos pela mídia.
Jamelão que "pensava que seria sempre operário", na verdade o foi. Operário da arte, da boa interpretação e do domínio vocal inigualável. Ele deixa uma lacuna, a qual talvez não interesse mais a indústria fonográfica preencher, mas que no cancioneiro popular ainda e pra sempre terá seu lugar. As serestas continuarão. As serenatas. Os menestréis hão de prosseguir se inspirando naquela voz grave de pronúncia irretocável que tocava aos corações e expressava o sentimento da gente que não se vê na televisão.
Não, Jamelão. Não vamos deixar sua arte cair no esquecimento. Ela será sempre lembrada nas canções melodiosas e no lirismo das letras que você interpretava como ninguém, num tempo onde as canções faziam sentido e do qual morremos de saudades.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário