
Sua vitória tem um valor simbólico enorme para o mundo. Para história americana um marco político que inaugura uma nova era. Mas, saturado pelas comemorações, pergunto: e daí? Esta vitória pode significar uma grande transformação no tecido social e político dos Estados Unidos, sem dúvida. E quanto a nós? O que festejamos? O que estamos comemorando? Uma vez que nós não somos o mesmo povo. Latino-americanos, africanos, árabes, palestinos, estamos num terceiro plano e nossas vicissitudes são outras. A herança deixada para o eleito não é das melhores e há tempos somos nós quem pagamos estas contas.
A ficha que me cai é feito moeda cujos dois lados são iguais. A festa em mim fluiu transitória específica (quase inconsciente) e baseada nas experiências de vida enquanto afro-descendente, mas a minha angústia antiamericana não se dissipa. Minha preocupação seria uma preocupação infundada, irracional e descontextualizada não fosse ele americano. Gostaria muito que esta mudança representasse uma mudança mundial nas relações desiguais e unilaterais desta superpotência, em crise, principalmente com os países pobres e em desenvolvimento, mas a ver pelo discurso da vitória, continuaremos a assistir um governo que governa pela hegemonia, pela megalomania em busca de solver seus problemas a custa e pouco importando o desequilíbrio mundial. Oxalá, esteja eu enganado.