domingo, 10 de outubro de 2010

DO ABORTO E OUTRAS QUESTÕES

Tenho lido muito a respeito da campanha política para sucessão do presidente do Brasil e me deixo estarrecer de quão reducionista se tornou a discussão entre seus postulantes. Claro que isto se deve em muito a mentalidade estereotipada do brasileiro, falso moralista e hipócrita, e a imprensa incompetente que forma opinião no país. Esta carente de manchetes e furos, sempre em defesa de interesses próprios, praticando o jornalismo inconsequente, anda muito distante do papel de informar, questionar e educar, refletindo o quanto ainda estamos ignorantes em relação ao processo democrático.
Daqui da Índia, onde estou, li com muita tristeza e decepção o posicionamento de um dos derrotados candidatos a governador da Bahia. Luiz Bassuma declarou apoio a José Serra por ser a candidata Dilma Russeff, segundo ele, a favor da legalização do aborto. Na minha ótica, este cidadão enterrou toda uma história de luta e combatividade que desenvolveu ao longo da sua vida profissional e política. Simplificou ao extremo um pleito que está para muito além das convicções religiosas de quem quer que seja. Cito este exemplo unicamente para ilustrar o que disse anteriormente. Estamos falando do destino de milhões de indivíduos que vivem num país laico e cuja gama de questões estruturais e sociais é infindável.
Gente, nós não podemos esquecer que tem pouquíssimo tempo que vivíamos uma eterna cruzada contra a inflação, ainda não estamos imunes desta que foi ,durante longos anos, a razão dos nossos maiores pesadelos. Havíamos que estar discutindo plataformas para manutenção do crescimento econômico. Sobre a preservação da referencia de valor que nossa moeda ganhou nos últimos anos. Isso reflete direto na qualidade de vida do povo e é fator preponderante pra mitigar a miséria que ainda assola o país. E mais, reduzir a política assistencialista que tanto incomoda a sociedade.
Precisamos discutir a educação com profundidade. A política intervencionista do governo atual é boa e tem colhido algum resultado, mas carece de avanços. Urge-se de uma reforma mais ampla do ensino público. Ações que resgatem a qualidade do ensino e revitalizem a educação. Eu não vejo nenhuma proposta de melhoria ou de ajuste.
Precisamos apresentar propostas para a falta de trabalho para a população ativa que emerge a cada ano. É impossível não associa-la aos índices de criminalidade aterrorizantes que possuímos. E já que falamos em criminalidade, urge-se discutir uma reforma das polícias e do sistema carcerário.
Precisamos discutir uma reforma tributária que desonere o contribuinte dos extorsivos impostos que se paga hoje. Somos bi-tributados em diversas operações comerciais.  Continuamos a ser um dos países que tem o maior encargo mundo. Empregar ainda continua sendo uma penalidade para quem emprega.
Quem tem propostas? Quem tem interesse nesta matéria? Quem se propõe a discutir amplamente esta questão? Que modelo de relação trabalhista querem os trabalhadores hoje? É a CLT o único caminho?
Só estes pontos, feito num apanhado simples, por um cidadão comum, já elevariam em muito o nível da campanha política e a qualidade das discussões acerca do futuro de mais de cem milhões de vidas das quais a maioria carece de informação, de formação e de saber se posicionar, posto que se deixe influenciar por uma imprensa que não se posiciona seriamente, perpetuando a visão rasa e o distanciamento do verdadeiro senso de democracia.
Neste contexto, os candidatos, reféns que são deste poder, escorregam por um caminho igualmente medíocre que não atende nenhuma perspectiva, levando a que se decida um pleito de tão grande importância no detalhe.

6 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Esamos sem saída, sem opção, sem certezas de de nada. Infelizmente os dois candidatos só discutem entre si e não mostram nenhuma proposta, nada que demonstre preocupação com os nossos reais problemas citados por vc. Beijos

Nara Santos disse...

Muito bem !! você tocou no ponto certo precisamos de um senso critico, precisamos entender que política é conhecimento. Enquanto delegamos a outros ficamos sem opção como comenta Elce. Você também disse que há pouco tempo atrás tínhamos problemas com inflação e muitos outros o problema é nosso precisamos todos participar. Não será preciso carregar bandeiras ou ser publico de comícios basta que analisemos as propostas. Quando senhores e senhoras tomarem posições apenas eleitor-eiras daremos nossa resposta com o voto que é o símbolo mais democrático que existe. Desta forma sou contra ao voto nulo e sugiro que procuremos nos informar e informar as pessoas que nos cerca. Não com ideais preestabelecidas mas conversando e divulgando as novas ideais. O caminho e o tempo parece longo mas este é o caminho. Amigo continue escrevendo colocando suas ideais isso já ajuda muito. Avisa a Elce que com emails para o site dos candidatos podemos mandar ideais e criticas pode ser um caminho. Um grande beijo

Dora Ferreira disse...

É triste ver a situação dos nossos políticos. As suas falas mais parecem de compadre e comadre numa disputa sem muita importância. Não se dão conta de que têm nas mãos a chance de interferir positivamente no desenvolvimento de uma nação como a nossa, que embora com todas as mazelas que a acompanham ainda é um lugar bom de se viver e com um potencial enorme.
Muito bom o seu artigo.
Beijo.

Unknown disse...

O que de fato interessa aos nossos políticos e aos brasileiros? Somos tão volúveis!! Moramos em um país tropical e abençoado por Deus. Que beleza!! Aos finais de semana ou ao final do expediente, saímos para o "happy hour" sob luzes de "abajour", optamos por uma "beer" e pedimos um "temaki" de tira-gosto. Somos um tremendo "mix" e não apenas no vocabulário. Sob o embalo das telenovelas, dos batuques, da "axé-music" e tantas outras levadas, seguimos rumos indefinidos. Eis um ponto definido nas nossas brasileiras vidas...a indefinição.
Experimentamos bons tempos nos últimos 8 anos sem a sombra de de termos e siglas como FMI, gatilho, deflação, inflação galopante, plano esse ou plano aquele. Mas, ainda seguimos indefinidos, pois, em um momento como esse, eleição do presidente, senadores e deputados federais não sabemos, de fato, que rumo o país seguirá nos próximos 4 anos. E pior, ao que parece, quase 50% dos brasileiros além de não saberem, desejam que os tempos de governo de FHC retornem.
Não há apresentação decente de planos para enfrentarmos os problemas elencados no "post" do "blog". Não há interesse algum nisso. Nesse pleito para presidente não tive como participar. Há algum tempo voto apenas para presidente, senador e deputado federal. Estou por demais cansado e chateado com tudo, melhor, com a falta de tudo relacionado a políticas sérias e que pudessem nos dar o devido direcionamento e possibilidades reais de planos para o futuro.
Lamentável saber que a prática do aborto, amplamente legalizado ou não, seja o item mais importante a ser observado atualmente. Mas, o que dizem a respeito da enorme quantidade de crianças abandonadas pelas ruas ou que crescem ingloriamente em casas de acolhimento, orfanatos e/ou em instituições do governo? Importante é parir, mas, cuidar após nascido, nem tanto? Que loucura?? Podem parir e crescer...os padres estarão lá de batinas erguidas esperando os coroinhas para saciarem os desejos pedófilos mais funestos. "Me bata um abacate"!

Cecilia Oliveira disse...

Todas essas questões elencadas no seu texto, merecem atenção especial por parte de cada cidadão brasileiro que irá depositar seu voto nas urnas no final do mês. Todos nós, incluindo os que se dizem apolíticos, precisamos ter consciência do que é a política e de como esta funciona e sobre tudo, pensar nos ( des )caminhos que podem ter implicação direta no nosso futuro por conta dela.
Parabéns pelo texto!!!!!