Canta a mim. Pode cantar baixinho, mas não canta para que eu possa ouvir. Canta a mim no corredor da lembrança e do olhar, sem o sorrir. Esmaga-me em sofrimento. Ressalta os maus momentos. Papos, colos, a embriaguez. Projetos de caminhadas, brigas, promessas, poemas, piadas, minha pressa e a ausência de lucidez...
Coração em festejo. Corpo em chamas. Cheiro de sexo. Calor de cama. Calma indelicada... Só não canta a aquela alegria. Que prevaleceu um dia e que valeu pelo que durou. Canta pelo que não pode ser, não pelo que suscitou. Canta a mim como quem anoitece, jamais como quem sente saudade. Canta como quem ignora que ainda não se desvencilhou.
Canta, canta o drama de recolher-se quando o natural seria vomitar o sentimento. Aquilo que foi dito em juramento, mas que nunca se cumpriu. Canta março, rascunhos de dezembros e aquele abril. Tudo que ficou parcialmente pendente, ou não rolou. O que disse e fiz diferente. As vezes que se me fiz ausente, onde a gente se demorou.
Canta minha falta de alicerces. A minha composição que te angustia. O ciúme da amiga que “não te desce”. Meus apegos e manias. Canta, revelando meus medos. Cálices quebrados. Boicote e agonia. Crise, cólicas, controle e colisão... Canta tudo que não faltou. Canta. Canta tua perfeição.
Santos, 15 de fevereiro de 2016.
OPERAÇÃO NÃO SUJEITA A TRIBUTAÇÃO
Num país campeão em tributação, um espaço para usufruir o que temos de mais caro e que ainda não foram taxadas: inventividade e capacidade de se indignar.
terça-feira, 26 de maio de 2020
terça-feira, 5 de abril de 2016
AS PESSOAS COMO ELAS SÃO
Das poucas coisas boas que esta
crise política do Brasil está me permitindo é enxergar as pessoas como elas
realmente são. Como máscaras têm caído neste momento tão delicado. Quão vil e
de caráter ruim, pessoas públicas ou não, amigos ou conhecidos, que sempre admirei,
têm se mostrado.
A nossa falta de educação e
maturidade política têm nos levado a extremos cuja minha crença nas pessoas não
conseguiria imaginar em tempos outros. Na falta de argumento, na falta de elementos,
vale qualquer coisa: acusar sem provas; por em cheque a honestidade dos
desafetos; defender quem, comprovadamente,
cometeu delitos, publicar notícias
falsas, sabendo-as falsas; faltar com o respeito com as instituições constituídas;
atentar contra a honra de quem quer que seja e etc...
O mais espantoso é que tais
manifestações não demandam só de pessoas sem formação acadêmica, malnascidas, ou
mesmo, ignorantes. Antes, pessoas que arrotam conhecimento, leitura e, às vezes,
posses são as que, primordialmente, tem nos dado esta lição de incivilidade. O
poder das redes sociais, o anteparo que, supostamente, elas representam, leva pessoas a se
encorajarem e achar que tudo podem e que tudo vale...
A princípio, muitas destas
posturas me causaram espanto ou preocupação. Depois, desconforto e chateação.
Mas de algum tempo para cá, decidi abstrair, ser mais analítico e observar, em
detrimento da expectativa que eu pudesse ter de certos elementos. Tenho
aprendido muito com isso. Não reajo instintivamente. Não contesto. Vou
ponderando quem é quem neste jogo de interesses, onde o que menos conta é a nação,
o bem comum e a igualdade de direitos.
Desde então, tenho buscado me esvaziar
das discussões inócuas com pessoas que no calor da defesa daquilo que lhes
convém, não percebem, mas vão desfigurando suas histórias, disseminando intolerância, destituindo-se de
valores (se verdadeiramente os tinha), voluntariamente dando suas contribuições
para o caos e a convulsão.
Mesmo depreendo desse momento que as
pessoas são como são. Sem imputar-lhes culpa por serem como são. Sigo desejando que esta não seja a nova
ordem moral deste país. Só me deixa apreensivo que muitos destinos, ainda sem
voz, possam estar à mercê deste jogo de forças, onde a busca pelo equilíbrio, diálogo, boa
vontade não estão entre as regras.
domingo, 8 de novembro de 2015
NOVEMBROS...
"Para acabar com essa ideia
De achar que tudo tem que ter censura
Para acabar com essa mania
De querer tirar das ruas minha juventude"
Diverdade (Chico Maranhão)
Para além do escuro da minha pele
Paira a treva da desinteligência humana
Aquela que hierarquiza, discrimina e exclui.
A luz desapareceu e tem tanta gente ferida
Que humanos somos?
Bestas indignas de ser comparadas aos animais
De onde virá a luz que nos livra das mentes hostis e desequilibradas?
Como ser flexível com quem crê que ainda pode deitar sobre meu dorso o chicote?
Como ficar complacente ao genocídio nosso de cada dia?
A escuridão campeia e caminha em direção ao ápice
Disfarçada de sombra e sutilezas
Como não ser panfletário? Onde estão as consciências?
Ah! Não me venham com discursos de democracia
Já perdi a paciência.
NOVEMBER
Too close to the my dark skin
Lives darkness of human silliness
That one that ranks, discriminates and excludes.
The light has disappeared and it has wound people
We are human?
Beasts unworthy of being compared to animals
Where is the light to free us of hostile and unbalanced minds?
How to be flexible with those who believe that can still hit on my back with the whip?
How to stay confident if we watch our daily genocide?
Darkness is rife and walks towards the apex
Disguised as shade and subtlety
How don't be pamphleteer? Where is the conscience?
Ah! Don't give me democracy's speeches
I've lost patience
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