quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Fiz Uma Viagem

Texto dedicado a minha "filha/sobrinha" Jéssica de Andrade.

Cai em mim uma suposição que aos olhos de muitos pode parecer absurda, meio absurda: será que suas cinzas não deveriam ter sido jogadas no mar da Bahia? Em Itapoã para ser mais preciso. Nenhum lugar te fora tão íntimo. Nada lhe fora mais concernente. Suas canções sinestésicas desaguavam nele: aquele mar. Aquela atmosfera. O teu habitat. A tua herança para o mundo. Sobre ele que se erigia a sua melhor porção. Assim como erigiu no imaginário do mundo, o mundo que a Bahia é. Acontece que você era baiano, Ioiô. E tudo dava a crer que sua jangada ainda ia nos voltar num raiar de sol sublime e singelo. Não era aqui a terra da felicidade? Tinhas prometido à “morena do mar” que ias voltar e num revide à “morena frajola” que um beijo lhe negou, ficaste por lá.
A noite que você não veio foi de tristeza pra nós. Acenamos-te nossos lenços de longe, num adeus meio sem graça. Você bem sabe, quanto mais distante mais triste o lamento.
Quase que a gente se zanga contigo, mas a gente te sabe perdoar. Ninguém foi com tu. Ninguém descreveu sua terra como você. Isso consolou nosso coração. Nunca teremos saudade igual. Aguda como sua musicalidade.Inquestionável quanto sua importância. Infinda...
Por certo, já encontraste sua cama macia de alecrim, mas você estará aqui, vivo, no ronco das ondas do mar.. A gente só queria te dizer mais uma coisa. Todo mundo gosta de abará. Todo mundo gosta de acarajé. Mas todo mundo gostava mesmo é de ti, Ioiô. Unanimemente, Ioiô... Unanimemente...

5 comentários:

Syl Vieira disse...

Nego,
Acho que sua suposição não tem nada de absurda... rsrsr
Fico encantada com este tipo de texto que sutilmente nos remete a lugares, pessoas, situações... que mexe com o imaginário... viajei literalmente... esta é uma leitura gostosa.
Você tem mesmo que ficar feliz com sua criação.. PARABÉNS!!!

Beijosssssss

Unknown disse...

Tio,
Fico muito feliz por ter lembrado da nossa conversa!

Concordo plenamente com você!
Depois de retratar de maneira tão intima as belezas da Bahia, seria mas do que "justo", que suas cinzas fossem jogadas ao mar de Itapoan, lugar que ele soube descrever com tanto carinho e admiração em suas canções. Fiquei bestanten surpresa, diria até decepcionada ao saber que não seria esse o destino das cinzas.
Mas como ja foi dito, depois mostrar ao mundo de forma tão digna a nossa terra, o que fica realemente é o lamento pela perda de um verdadeiro BAIANO.

Serjão disse...

Hamilton mas que bela homenagem! As queixas são mais do que justas. Pois desde que pegou o Ita no Norte o nosso amigo não mais voltou e o mais curioso é que ele colou de tal forma a sua obra a Bahia e a sua própria imagem à dos baianos(sob muitos aspectos, inclusive o da preguiça), que subliminarmete ficava uma impressão que ele sempre esteve presente entre nós.
Da mesma forma ele está povoa todo o texto, sem ao menos você lhe citar o nome(e não sou eu que vou dizer).
Parabéns pela palavras que você conduziu tão habilmente externando um sentimento que também é meu pelo vazio deixado .

Unknown disse...

Adorei, amei como tudo que vc faz!Beijossssssssssssssss

Claudia Cunha disse...

Hamilton,
que texto bonito e sensível. Tem essa qualidade de nos remeter a lugares, canções e às referências tão dele, tão nossa...Adorei!
Beijão!