sexta-feira, 3 de outubro de 2008

HOJE, EU QUERO ESTAR SÓ


“Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que
Alguma coisa aconteceu
Está tudo assim
Tão diferente...”
(Por enquanto, Renato Russo)










Porque eu nunca vi tanta dor naqueles olhos e, sobretudo, amor. Vinte oito anos. A vã poesia não explica porque depois de tantos outonos. Fico atônito. Quem lhes autorizou?
Ainda os vejo, janeiros, juntos, exemplificando aquilo que eu nunca aprendi: acasalar. Perco o sono. Expio. A vida não sabe mais de nada. A dor nos olhos dela não me sai do estômago, aonde o frio chegou junto com a notícia. Eu os amo tanto. Quisera que meus olhos não estivessem lá para ouvi-la. Quisera inventar um jeito de remendar o beijo primeiro lá nos catorze anos, onde residia a felicidade do encontro. Noites intermináveis. Sexo vida amor foda. Vínculos profundos... E um estado de pertencimento... Cheguei muito depois, mas eu sei o que se desfrutou...
Eu a olho nos olhos. Ela é tão dele. Deve conhecê-lo em cada dobra, cara ruga, cada suspiro, as linhas da palma da mão, o gosto advindo da sua ressaca. Mulher, puta, amiga de infância, ela mesma. Libertação? Os olhos marejam e eu confundo dor e geografia. Que abismo é esse? Por que se rompe o istmo que liga estas duas grandes porções de terra, água, fogo e ar, onde eu me confino como se a buscar segurança?
Posso imaginá-la, pensamento solto: nascimentos. Nome, batismo, cocô, escola, útero, dentição, sabonete, menstruação, virgindade. Tudo ao mesmo tempo e sem qualquer ordem.
Sofro de assalto com a notícia e sofreria mesmo se esta fosse boa pra eles. Pra mim será sempre má. Tem coisas que não cabem depois de tantas estações de trem e colheitas.
Os olhos dela... Fingem conter um equilíbrio delicado e generoso, mas que se desfaz, se desmente e desmancha na voz embargada, no rubor da face, enquanto persegue o argumento perfeito... Que eu rejeito e não quero que exista.
Desculpem-me a devoção ignorante de quem ainda está na total falta de luz, mas se eu fosse vocês recolheria os cacos esparramados e reconstituiria o vaso da existência. Ferimentos quando não matam, cicatrizam.

4 comentários:

Syl Vieira disse...

Bonitooo!!!
Continuo fã... rsrs
O texto, neste novo ângulo, expressa situações e sentimentos que comumente procuramos esconder... palavras fortes e cheias de significado... é bom olhar atravez dos teus olhos... Você está crescendo na escrita.
Parabéns!!!

Acho que já sei a origem.

Beijosssssss

Aline Najara disse...

Muito lindo!
Profundo...
sincero...
o olhar no olho é uma experiência ímpar!
Feliz de quem pode vivê-la!
Feliz de quem a reconhece.
Um grande beijo!

Andrezão Simões disse...

Hamilton, que belo conteúdo habita em nosso porão, hein ? Que linguagem rica, simbólica, cheia de verdades que precisam emergir, companheiro. Fiquei feliz em vê-lo e em lê-lo. Continuemos a arte de viver em plena vida, esse é o maior desafio para quem vive além de si mesmo. Se traga todo !!! rs... Abçs companheiros. Até mais ler...

Mazai Mozart disse...

É realmente , o mundo s constitui das coisas q achamos simplesmente q estao soltas... logo me chamam d louco , tardo e um relis mortal, onde minha alma s encontra no berço da ignorancia e na inexistencia de um viver... pra q viver sem s viver ? aonde estamos ? quem somos? e oq fazemos? td isso resume se ao mero acaso da construção de pensar onde somos o tudo e o nada , o preto e o branco , o feio e o belo.
FINALMENTE SOMOS SIMPLESMENTE NDA , PÓ , CINZAS Q S DESTROÇAM NAS PALAVRAS , NO ACHISMO , E NUNCA ENCONTRAMOS DADOS REAIS DE NDA . RESUMINDO ALEM D SEU TEXTO ESTAH MARAVILHOSO JUNTO C A CONJUNTURA DA VIDA , CHEGO A CONCLUSAO D Q N SEI ABSOLUTAMENTE NDA , Q VIVO AO MERO ACASO DO VIVER.
EU SOU UM MERO MENTIROSO RSSRSRS