Quando eu decidi criar um blog, eu tinha em mente buscar um título que não soasse literal aos assuntos que eu pretendia tratar nele. Minha ideia era escrever sobre assuntos amenos, poéticos, cotidianos e não atribuir a ele qualquer outra conotação que lembrasse o título que escolhi por pura leviandade. Em dado momento, equivocadamente, eu andei externando minhas opiniões sobre eleição presidencial e aí decidi parar e dar um tempo. Acredito que já tem gente especializada no assunto o bastante e eu não tenho pretensão de formar opinião.
Há dias atrás, eu senti vontade de retomar meus escritos. Postei um poema. Pensei em escrever sobre minha nova morada na Índia, mas tem um assunto que está me causando uma comichão há meses para que comente sobre ele.
Desde que cheguei a Índia, é inevitável e natural, eu fico a todo instante comparando um país e outro. Culturas muito diferentes de idades díspares. Nações de hábitos e costumes totalmente diversos. E tantos outras questões que nos separam de uma forma estúpida. Uma delas é a tecnologia. Me deixa abismado como uma país tão conservador tem se lançado à pesquisa e ao desenvolvimento de tecnologia de forma tão contundente. Coisa tão relegada a segundo plano no nosso país. Mas este é um outro ponto. Hoje quero falar de economia. Isto é o que me incomoda.
Com menos de três meses que estava aqui, eu já tinha uma vaga noção do quanto nós somos explorados no Brasil em relação não só a carga tributária que nos é imposta (isto lembra o nome do blog) pelo apetite insaciável do governo e, principalmente, pelo comércio. Não que eu esteja dizendo nenhuma novidade, mas que fica amplificada quando você se depara com tamanha e gritante aberração.
Em fevereiro de 2010, comprei uma máquina digital em Mumbai que me custou em torno de 220 dólares. Havia pesquisado na internet e o menor preço para exatamente o mesmo modelo e fabricante no Brasil era 330 dólares. Aliás, é de uma imoralidade tão grande quando você faz uma busca destas e encontra valores para um mesmo produto que variam, em até 3,5 vezes de uma loja para outra. Mas vamos em frente. Em março, dada a minha proximidade de ir ao Brasil, resolvi comprar um netbook para minha filha. Fiz nova pesquisa. Comprei o equipamento por aproximadamente 390 dólares quando no Brasil custava 705 com mesma configuração, sistema operacional e etc. Só agora, passados 15 meses, que os preços começam a se equivaler. Vou só dar mais um exemplo para ilustrar. Ano de Copa do Mundo, eu nunca tinha desejado ter uma camisa oficial da seleção brasileira, mas quando você está morando fora do país, parece que certo ufanismo se apossa de você. Pensei em comprar a camisa ainda no Brasil, mas achei 105 dólares salgados e desisti da compra. Em escala em Johannesburg , uma das cidade sede do evento, comprei a camisa canarinho, a mesma da marca famosa e milionária, por 75 dólares. Mas não pense que a história acaba aqui. Aportando em Mumbai, a mesmíssima com toda sua originalidade e procedência custava 62 dólares. Com raiva eu comprei a azul que embora não seja a tradicional é mais bonita.
Mas onde eu quero chegar com todo este discurso oco e sem objetividade?
Na Índia tem duas coisas que me deixam muito confortável. A primeira é a violência urbana que percentualmente é insignificante se comparamos com as grande cidades do Brasil. Este é um assunto para a gente abordar em uma outra prosa. A segunda, assunto que eu quero trazer desde o começo, é um “troço” chamado MPR (Maximum Retail Price). Pode ser que eu não esteja tratando de nenhuma novidade, mas é algo que tem me deixado muito tranquilo para sobreviver aqui. Pois aonde quer que eu vá, sei que não vou pagar mais pela mercadoria que desejo do que estabelece o MRP daquele produto. Eu tenho parâmetro e referência dos preços.
Mas onde eu quero chegar com todo este discurso oco e sem objetividade?
Na Índia tem duas coisas que me deixam muito confortável. A primeira é a violência urbana que percentualmente é insignificante se comparamos com as grande cidades do Brasil. Este é um assunto para a gente abordar em uma outra prosa. A segunda, assunto que eu quero trazer desde o começo, é um “troço” chamado MPR (Maximum Retail Price). Pode ser que eu não esteja tratando de nenhuma novidade, mas é algo que tem me deixado muito tranquilo para sobreviver aqui. Pois aonde quer que eu vá, sei que não vou pagar mais pela mercadoria que desejo do que estabelece o MRP daquele produto. Eu tenho parâmetro e referência dos preços.
Explico-me, toda mercadoria por aqui traz no rótulo ou etiqueta, impressão obrigatória, informações essenciais sobre o produto, dimensões, peso ou volume, nome e endereço do fabricante, melhor data pra consumo, no caso dos gêneros alimentícios, e, obviamente, o preço máximo de venda a retalho. Ou seja, ninguém precisa fazer aquela via Crucis de ir a vários supermercados ou lojas para conseguir produtos em promoção. O mesmo se aplica ao vestuário e tantos outros bens de consumo (entenda por bens de consumo de consumo todos os bens e objetos levados ao mercado para venda e destinados para o uso e o consumo da sociedade). Este preço inclui todos os impostos e o custo de produção. O varejista que não for ganancioso, como se vê na maioria dos do Brasil, pode baixar sua margem de lucro e vender abaixo do valor fixado. Muitas das vezes isto acontece por aqui.
Embora saibamos que existe falhas no sistema, o governo estabelece regras rígidas e a despeito de qualquer outra coisa, os indianos são muito mais ordeiros e cumpridores/tementes à lei do que nós brasileiros. Reclamações feitas ao Tribunal de Justiça do Consumidor que comprovadamente caracterizem prática desleal são tratadas com rigor.
Em essência, todo este mecanismo deveria ser assim em todo lugar. Seria uma forma de proteger o consumidor que é a razão de ser do fabricante, fornecedor, varejista, ou seja lá quem que negocie mercadorias.
No Brasil, além disso, acabaria com os conluios imorais que acontecem a olhos vistos, em muitos segmentos da economia.
Numa das minhas idas ao Brasil, um colega me pediu para trazer-lhe um complexo vitamínico pelo qual paguei 58 dólares por cem cápsulas. Poucos dias depois, já aqui na Índia, encontrei o mesmo suplemento, da mesma multinacional, numa embalagem com duzentas cápsulas por, pasmem, 23 dólares.
Por maiores que sejam as diferenças de mercado, matéria-prima, preço de mão de obra e tributos, alguma coisa está errada com a gente.
Surat, 25 de junho de 2011.
5 comentários:
Usei o dólar como moeda de referência porque, acredito eu, numa economia globalizada, bens idênticos deveriam ter preços aproximados. E se pensarmos que a inflação na Índia é um pouco maior a discrepância fica ainda mais evidente.
Hafif é mais que oportuno o seu texto, sobretudo na nossa querida Bahia, onde parece que tudo se torna mais caro. Esta é uma questão histórica e até então inexplicável para mim. O que me incomoda ainda mais é que, a carestia avança a passos largos, para agregar valor a coisas de gosto duvidoso enquanto que o original se torna esquecido. Os exemplos são muitos e passam pela nossa música, por nossas festas tradicionais e até mesmo a nossa cidade Salvador está vivendo essa dicotomia.
“Triste Bahia!”
Um abraço
Meu querido, há qnt tempo não posto um comentário no seu blog! Ja estava com saudade. rs. Acostumada com textos literários e cheios de emoção, hj me deparo com um totalmente literal e informativo o que só aumenta a importância de debater assuntos como esse. A gente sabe que a carga tributária no Brasil é altíssima, mas parece que temos que mudar de continente para percebermos melhor o que acontece por aqui. Infelizmente, com todo meu apoio aos governos dos ultimos anos, não acredito que, se houver uma reforma, esta será efetiva. Já que se criou um vicio na sociedade brasileira do lucro, da concentração e da falta de cobrança por parte do povo. Enquanto isso cresce o contrabando, a substituição por produtos de baixa qualidade e isso só prejudica a economia do país, mas todos procuram o meio mais barato de consumo. O jeito é comprar onde nos oferecem o menor preço com a mesma qualidade e isso, certamente, não se encontra no Brasil!! Mas sejamos otimistas e vamos acreditar em uma reforma efetiva e duradoura. Um beijão e saudades!!
Meu caro amigo!.
Lembro muito de sua dúvida e real sofrimento em sair do pais em sair da Bahia.
Seus comentários infelizmente em nada me surpreende. Muito já ouvir e confirmei esses fatos. Mas então o que fazer.
Já ouvir que a felicidade não pode ser completa - Morar no Brasil na Bahia ter tranquilidade, condição de sobreviver com racionalidade etc...
No inicio fiz vista e ouvido de mercador, mas infelizmente pode ser verdade.
Outra vez ouvir que a sensação de aconchego de quentura maternal tem que ser imperfeita para que eu me lance no mundo e queira nascer.
Fiquei irritada com está frase ou pronunciamento, mas não tive como rebater.
Em grave e revoltante resumo.
Será que o paraiso é tão longe ou mesmo inatingivel.
Todos querem vim para cá, ninguém quer sai daqui de forma que esses comentários só parecem verdade fortalecendo a inercia do povo que aqui vive em melhorar.
Assim meu caro amigo digo e reconheço que para viver é passear no paraiso e ganhar a vida em outros mundos até que nos seja apresentado opções melhores.
bjs
Acho muito importante discutir sobre essa questão. É triste saber que boa parte do salário que ganhamos em um ano de trabalho duro,são destinados para pagamento de impostos.
Pior que isso é a nossa passividade diante da aplicação indevida desses recursos que implica em péssimos serviços de saúde, educação e moradia para a população.
Parabéns pelo excelente texto!
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