Há duas semanas, eu estava em
Salvador, por volta das sete horas da manhã, quando meu irmão me liga pra dizer
que minha música estava tocando, naquele momento, na Rádio Educadora. Eu disse
para ele que eu tinha ouvido e falei do mágico de acordar naquele instante e da
emoção que eu estava sentindo. Tinha ido a Salvador desmontar o apartamento em que
morava e uma incômoda melancolia me acometia por ter que me desfazer daquele
que foi meu ninho por quinze anos e que me vinculava, ou permitia voltar, de
forma recorrente, para a cidade que eu amo, e que tive de deixar por força do
trabalho.
Ouvir “Gratidão” tocando na rádio,
naquele instante, ressignificou tudo que eu estava sentindo. Era o universo de
alguma forma me sinalizando que para além das relações de afeto cujos elos não
irão se desfazer, agora eu tinha também me vinculado pela música.
Esta introdução é importante
porque ela ilustra bem a importância que passou a representar ter produzido este
que é o meu primeiro CD. Essência, este é o nome, completa uma ano de lançado
me proporcionando até hoje surpresas, alegrias e reconhecimentos dos mais
improváveis. Não que ele tenha caído nas graças de nenhum crítico de música
famoso, nenhum produtor ou algo semelhante. Não fiz nenhum movimento pra isso,
diga-se de passagem. Não tinha esta finalidade. Aliás, não tinha finalidade
outra a não ser agradar a mim.
O fato é que de modo
surpreendente, muito mais que isso, Essência me deu a oportunidade de conhecer
valores que Salvador tem, que não deixam nada a dever pela competência, pela
qualidade do trabalho, pela criatividade e pelo senso de coletividade a nenhum
deste centros produtores de música. Graças a estas pessoas o resultado é um
trabalho que tem agrado não só aos amigos, mas a gente que eu nunca vi, que nem
sabia que eu compunha e gente que conhece e gosta de música, mas que nem imagina
que na Bahia existe uma pluralidade maior do que mostra a mídia.
Essência tem sotaque baiano, tem
cor local e tem a assinatura de gente boa, que se sabe boa, mas que ainda não
tem a visibilidade proporcional a sua qualidade. A cada vez que apresento este
trabalho fora do meus círculos naturais de conhecimento, nas plagas novas por
onde tenho andado, os comentários são os melhores sobre arranjos, sobre
execuções dos músicos, sobre o belo trabalho gráfico. E eu confesso que sinto
um orgulho muito grande.
Pode Essência não ser um CD primoroso,
pode não surpreender ao povo ávido pelo boom
de novidades efêmeras, pode não ter a pujança das grandes produções, mas
Essência é honesto, feito por gente honesta com sentimentos, vontade e trabalho
para aqueles que ainda param para escutar. Não soa pretensioso, nem tão pouco
de consumo fácil. Ninguém, entretanto, poderá dizê-lo previsível.
Fecho este texto, cujo fim é
celebrar, agradecendo a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para
que conseguíssemos parir este filho, que hoje completa um ano, do qual somos
todos pais e responsáveis e que, de forma muito competente, fizeram com que meu
samba vencesse a barreira do anonimato, tocando na rádio e contribuindo humildemente
para ajudar na repaginação da música que ora se produz na Bahia.
3 comentários:
Leia!
https://itunes.apple.com/br/album/essencia/id623638517#
Dois anos e meio... "Essência" está no ar, nas mãos e nas vozes de quem aprecia a música que toca a alma. Parabéns meu querido!
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