Há tempos que eu quero escrever sobre esta questão. Nosso acanhamento nordestino. Nossa dificuldade em fazer frente ao sudeste do Brasil, mais especificamente Rio e São Paulo. Parece algo vinculado à baixa autoestima. Isto se dá no campo dos negócios, no campo das ciências, no campo cultural, no campo dos esportes.
Eu muito embora, ainda atue como um homem de negócios, sou apaixonado por futebol e por samba e dentro destes, talvez, eu encontre as maiores evidencias do que quero ilustrar.
Mesmo quando eu era criança, ficava irritado com os times daqui da Bahia, meu Bahia e mesmo o outro, pois a rivalidade pra mim só vale localmente, com seus esquemas tímidos quando saíam para jogar fora da nossa região. Assisti muitas partidas onde tínhamos um time competitivo e perdemos, uma grande maioria de jogos, pelo medo de se portar como “gente” grande. O Esporte Clube Bahia, nos anos setenta e oitenta, sempre conseguia montar times com bom elenco, diferente da sua situação neste novo século onde cada ano o quadro é pior que o antecessor, mas que sempre que se defrontava com os chamados grandes do futebol brasileiro, se revestia de um humildade excessiva, de esquema táticos que de tão defensivos já iam para campo encurralados, naturalmente fadados à derrota. Faço uma ressalva para, o time do Bahia de 1988/9, capitaneado pela sutil elegância de Bobô, este sim um sujeito arrojado, que peitou a todos e chegou onde chegou. Historicamente, fala-se muito do time de 1959, mas este eu não ainda não era nascido.
No campo da música, vou me deter ao samba, que é onde transito, logo, excetue-se deste contexto os então poderosos do Axé, tem uma coisa que tem mexido comigo desde o dia em que fui a um show de uma boa cantora local, num pequeno teatro de Salvador, e me deparei com um espetáculo que tinha tudo para ser excelente, mas que não o foi por duas razões: o público presente era incipiente e a cantora parecia sentindo-se fora do seu habitat. A sensação com que eu saí era de que o público de samba de Salvador, que é muito grande, haja vista o crescimento “astronômico” dos blocos de samba no Carnaval, não se acha digno de frequentar e introduzir o nosso mais genuíno produto musical nos teatros. Durante alguns meses, fiquei pensando sobre esta questão. Sobre o que nos inibe. Não cheguei a uma conclusão que não seja este senso de inadequação provocado pela nossa baixa autoestima. É como se o samba que é gênero maior, cuja a base de sua existência foi construída aqui, graças a nossa ancestralidade, não tivesse espaço, como grande espetáculo que é, nos palcos “nobres” desta cidade.
Acolhemos, comparecemos, pagamos caro para assistir atrações do “sul maravilha” , expressão pela qual tenho verdadeira ojeriza, mas não nos sentimos à vontade, de pagar preços módicos para prestigiar ao samba local, quanto mais para promover eventos. Quando falo de samba não estou me referindo a este movimento de pagode, de letras chulas, pornográficas e harmonia paupérrima. Posso e tenho propriedade para elencar uma série de compositores (as) que sabem compor e fazer sambas, que nada ficam devendo aos que nós “importamos”, que não sobressaem graças a uma mídia interesseira a serviço das grandes companhias e do dinheiro fácil.
Penso que está na hora de entendermos que quando um cálice está pela metade, ele não está meio vazio. Ao contrário, se a gente conseguir perceber que ele está meio cheio e que esta metade contém algo de qualidade, independente de quantidade, começaremos a rever esta postura que vimos adotando secularmente. Somos imensamente duros e exigentes com os nossos e altamente condescendentes com os que vem de fora. Poderia até fazer ilustrações diversas sobre isso, mas não me deterei. O objetivo é que comecemos a rever estas questões. Que valorizemos aquilo que temos, elogiando criticamente, valorizando a nossa herança cultural, que é sem dúvida a mais original, não entregá-la de bandeja. Acreditemos mais em nós mesmos.
Durante mais de um século,temos nascido aqui e vamos crescer na terra dos outro, o samba é só um exemplo,jogadores de futebol extremamente talentosos, só tiveram seu trabalho reconhecido quando saíram daqui. Alguma coisa está fora de ordem. Somos a terra da felicidade.Felicidade pra quem?
Só com autoestima alta, com empreendimento, torcendo pelo sucesso uns dos outros, apoiando-nos, que seremos realmente um povo melhor. Chega de repetir os mesmos círculos.Nossa vocação é ser feliz e ajudar o nosso igual, aquele que está ao nosso entorno, a sê-lo.
Um comentário:
Meniiiinooooo,
Quanta inspiração... você falou pra dedéuuuuu.
Gostei do texto. Muito verdadeiro. Não sei ao certo o motivo desta forma tímida de ser do nordestino, mas ainda tenho esperanças de que tudo pode ser melhorado. É perceptível que a mídia tem contribuído consideravelmente para a composição deste arquétipo que não prestigia a prata da casa, mas que tira seus últimos tostões do bolso para aplaudir quem vem de fora do estado. Isto já virou moda. Nada contra. Apenas discordo com esta forma pobre de apresentar nosso estado para o mundo, pois existe uma vasta gama de riqueza cultural circulando pelas praças, teatros, becos e avenidas e que não são divulgadas pelas mídias e se quer aceitas pelo público.
Possuímos gingado, beleza, raça e força... para que mesmo? Temos o poder?... então temos a dever de acreditar e fazer diferente.
Quanto a Seleção do Bahia... kkkk... O último jogo foi decepcionante... estou vendo à hora de ter quer criar uma nova divisão só para o Bahia... melhor nem comentar... mesmo assim continuo torcendo e rezando para que algum milagre aconteça.
Continue assim... escrevendo muito... pq escrever poooooooddddeeee
Bjus e fica com Deus
Syl
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